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quarta-feira, 12 de agosto de 2009

LEAL DE SOUZA: A HISTÓRIA CONTINUA



Diamantino Fernandes Trindade

Caro leitor!
Após a publicação, pela Editora do Conhecimento, do meu livro Antônio Eliezer Leal de Souza: o primeiro escritor da Umbanda, continuei as pesquisas sobre o querido poeta e jornalista. Durante um ano estudei e analisei diversos documentos, para elaborar o livro, e fui interagindo e fazendo parte da vida dele, passando a amá-lo como se fosse meu pai ou meu filho. Enquanto tiver fôlego, vou prosseguir no resgate de sua memória, que também é parte da memória da Umbanda e da literatura brasileira.
Destaco aqui uma de suas obras que pouco abordei no livro, A Romaria da Saudade, onde poeta faz um apanhado de sua viagem ao Rio Grande do Sul, dezoito anos após sua partida para o Rio de Janeiro, e as conferências por ele realizadas nesse Estado. No segundo capítulo, Recordações da vida literária, conferência proferida em Porto Alegre, na noite de 17 de janeiro de 1918, Leal de Souza falou sobre a vida militar. Transcrevo alguns trechos que considero importantes:

“Na Escola Militar, em 1898. Dezoito alunos, obtendo a necessária licença requerida ao ministro, fomos guerrear a Canudos” [1]

“Implicado na curta guerra dos ratos brancos[2] – sanguinoso conflito entre alunos e policias – fui, com sessenta companheiros, excluído da Escola, e, achando-me preso, travei prazeroso conhecimento com os poemas de Caldas Junior”.

“Em São Gabriel, servíamos Armando Faria Correia, Ernestino Catão Mazza e eu, quando, a propagar uma revista porto-alegrense, Marcello Gama por lá apareceu. Armando, ousado, publicava; Ernestino, discreto, murmurava, e eu, desconfiado, escondia versos. Os meus, clandestinamente perpretados,[3] jaziam debaixo da cama, dentro de uma lata coberta por uma tábua encimada por uma pedra. Certa ocasião, estando nós no quartel e Marcello em nossa casa, a sua impertinente bisbilhotice esgaravatadora devassou o enlatado tesouro poético e ao abrir, no domingo, uma folha local, eu, tremendo de espanto e vergonha, deparei com todo o meu nome espetaculosamente espichado sob o escândalo de quatorze dos meus ocultos versículos, impressos em perfilado tipo garrafal. Assim, empurrado e surpreendido, penetrei o Parnaso”.

Cansado de sofrer prisões por combater o governo de Borges de Medeiros,[4] desligou-se do quartel. Emocionado, fala da sua partida para o Rio de Janeiro:

“... Ano de 1900... Um navio amarado no Guaíba... Novembro... Macias, ficando... viridentes,[5] fugindo... ondulosas, desaparecendo... as doces terras sul rio-grandenses... desaparecendo... desaparecendo e na fulva[6] apoteose vesperal de Dezembro, diante da afável Guanabara acolhedora, o deslumbrado canto de um bárbaro:

Cidade dos nostálgicos crepúsculos,
Floresça o Amor e frutifique o Ideal,
Sob a fronde[7] oscilante das palmeiras!

Num sarau, fui apresentado, por Afonso de Aquino, a Olavo Bilac, e no momento, a então senhorita Ferreira Vianna, aludindo benevolamente as minhas rimas obscuras, acordou-lhe o desejo de conhecê-las. Recitei-as. A magnanimidade do mestre explodiu, surpreendendo a mim, e a todos. Por solicitação e intermédio de Guimarães Passos, mandei-lhe, destinada à sua coleção de autógrafos, uma das produções recitadas, e indescritível foi o meu espanto ao vê-la transcrita na Noticia, entre animadores gabos[8] vazados na harmônica prosa bilaqueana. Não é a vaidade, é a gratidão quem recorda essa fina carícia da luz gloriosa à quieta sombra afundada do vale”.

No capítulo Saudades do Rio Pardo, conferência proferida em Rio Pardo, na noite de 31 de janeiro de 1918, Leal de Souza mais uma vez fala sobre a vida militar:

“Por esse ano de 1889, cheguei à vossa cidade e, sob a farda de aluno da Escola Preparatória e de Tática, vivi entre vós acima da terra, dentro da nuvem azul e ouro do sonho puro...
Éramos, na Escola, uns trezentos rapazes ligados por laços recíprocos de afetos à população civil, orçada em treze mil habitantes. Com as nossas pardas blusas de canhões azulados, passeando ao declínio das tardes, vagando na treva das noites, cobríamos a extensão das ruas e praças, extravasando-nos, solitários ou em grupos, pelos pontos adjacentes. Moços e crentes, esperando realizar ambições esplendidamente ingênuas, tínhamos na face o esplendor da alegria.
O moroso estudo facultativo, a frequência regular às aulas, os estéreis exercícios irregulares, as engraçadas brincadeiras concebidas e executadas com endiabrado chiste irreverente, não bastavam á nossa extenuante energia irrequieta. Caiam, alguns, em prostradora neurastenia,[9] e buscavam, outros, aproveitando-os onde achávamos, motivos e meios vários de ação.
Por isso, intervindo como demônios em coisas alheias ao nosso oficio, nos atiramos na agressiva confusão da política a nossa tumultuosa inexperiência militante.
Na Escola, provocando a raivosa reação dos cadetes contrários à nossas idéias; nas praças, acendendo a cólera no peito dos cidadãos hostis aos nossos princípios, na própria casa do comandante, militares unidos a paisanos apregoávamos, rugindo discursos formidáveis, a excelsitude de nossos vermelhos credos. Eu, simples soldado sem direitos políticos, fui, em muitos atos solenes, o inflamado orador oficial do partido inimigo do meu comandante! Multiplicavam-se, agravados de dia para dia, os perigosos atritos causados pelo crescente furor da politicalha, e, bondosos, acatados professores da consciência estelar de Olavo Barreto Vianna ou da superior tolerância de Francisco Sergio de Oliveira, compreendendo as circunstâncias do meio e os vivos ímpetos do sangue jovem, apaziguavam com seus apelos, e os seus conselhos, a irritação incontida dos chefes e o zombeteiro desdém dos comandados.
Talvez todo esse louco frenesi partidário fosse um resultado imprevisto, e só hoje observado, da nossa explosiva efervescência literária.
Discutindo a nossa prolixa[10] oratória, comentando as nossas estiradas[11] crônicas, aplaudindo os nossos fogosos cantos, a culta gente rio-pardense animava, magnânima, as nossas doidas audácias, e nós, entusiasmados por tantos generosos estímulos, tamanho barulho levantamos que fomos ouvidos em centros mais populosos, incitando-os, com o nosso exemplo, ao ativo trabalho intelectual.
Entrou-se de falar então, nas folhas porto-alegrenses e nas de todo o Estado, no movimento literário do Rio Pardo, dando-se-lhe a importância de uma nova escola caracterizada por traços próprios. Dessa transitória agitação de letrados, restam somente três livros – os Primévos, os Jaspes e o Álbum de Alzira, além das infinitas poesias esparsas. Nestas como naqueles, persistem, documentadas em significativas semelhanças, as linhas comuns do nosso poetar: - ausência inocente de processos e dogmas artísticos, sacrílega incredulidade religiosa, e, titulando uma nobre aristocracia feminina, delirante febre amorosa”.
“Quando um homem sofre por certas mulheres, esse cruel sofrimento é uma rutila[12] glória. Foi meu primeiro livro o espelho da fascinação. A fascinadora ingênua era menina e moça... Arvorecia, e em seu florir mostrava:

“Entreaberto o botão, entrefechada a rosa,
Um pouco de menina, um pouco de mulher.”

Com o seu flexível garbo[13] ondulante dava a impressão de ser alta; longos, os seus fartos cabelos densos, por serem tão negros, pareciam brilhantes e molhados; na harmoniosa escuridão de seu claro olhar dilatado para o espanto do mundo, no impoluto[14] negror dos seus travessos olhos rasgados para as surpresas da vida, relembrava um sombrio incêndio de treva; ensanguentava-se no bipartido frueto candido de sua boca a sonoridade luminosa do sorriso; era tímida, sendo altiva; com seu lento andar cadenciado imprimia sereno ritmo à luz, ao ar, à sombra, às idéias, aos sentimentos e fulgurava suntuosamente aureolada por um halo virginal de pureza absoluta...
Eu lhe falava com arrojo e unção:

Curvado e triste, humildemente eu venho
Depor aos vossos pés, em reverente
Culto, de sacra comoção tremente,
Das ilusões e pálido desenho.

Mandava-lhe através das noites, ou no úmido frescor das madrugadas róseas, beijos – da carne rubra versos palpitantes, e versos – beijos da lira; contemplava-lhe o donairoso[15] vulto emoldurado pelo fulgor sidereo das manhãs no quadro sul de sua janela; proclamava-a entre todas as belas a mais bela; seguia-lhe os passos nas salas por onde a laureada aristocrata passeava:

A mística inocência da serrana
Ostentando nas formas de sultana
O salero[16] gentil de uma espanhola

Fascinados,

Os meus olhos em taças se transformam
Para beber os mórbidos falernos[17]
De teus olhos tristissimos e ternos.

Quando ela, gloriosa, passa – heróica de beleza – revestida de pompas verdejantes, refulge a natureza, e o mar, ao vê-la, beija-lhe os pés, em convulsões desfeito, de perolas e algas. À sua passagem, o poeta canta e o selvagem chora.
Surpreende-a a minha imaginação no mistério subtil[18] da alcova,[19] e a soberana Condessa, corada de pudor, os seus pomposos adornos.

Ao rutilar da lâmpada de prata,
As madeixas nigérrimas desata.

Esconde-se no cálice purpúreo de uma flor a leveza de uma borboleta e,

Depois... Silencio... Trevas no aposento.
E as estrelas no azul do firmamento,
Alvas, brilhando cristalinamente.

Isolado no repouso noturno das coisas, enquanto a formosa adormece

Na tepidez do leito rendilhado,
Eu procuro no espaço constelado
O santelmo[20] argentino[21] da Esperança.
Árduos deveres determinaram inevitável mudança de palco à minha contingente situação de secundário ator mais ou menos invisível no drama universal da existência. Forçado a deixar a terra encantada dos meus amores, o meu alarmado coração lateja nos éstos[22] de uma dor precondita, e pulsando entre frias nevoas comparáveis às neblinas da noite de seis meses, clama:

Eu parto. Irei passar a rude vida
Na solitária e plácida guarida
Que tem por teto o teto da amplidão;
Desprezarei essas cidades vastas,
Irei viver nas serranias castas
E tu habitarás meu coração.

Só na mágoa do ultimo verso reside a verdade... Continuando, o meu romântico desespero bradava:

O mar...

Ao baloiçar do litoral a areia,
Há de levar-me, em turbilhões de espuma,
As linhas de teu corpo, uma por uma,
E os aromas silvestres desta aldeia...
Anunciava, estremecendo

Com as notas dispersas da cantiga
Nas duras rochas que a floresta abriga
A voz do echo, ao fenecer, consome,
Assim se apagarão nessa memória,
De nosso amor a celebrada historia
E as simbólicas letras do meu nome.

Teimoso, brandindo o plectro,[23] jurava, ou prometia: - voltarei

A este floreo berço de poesia
Para cantar-te a formosura rara.

Voltei, como vedes, e, obediente aos compromissos da juventude, cumpro, perante vós, as promessas da mocidade!
Há cerca de dezoito anos, num fim de baile, nesta cidade, o meu peito jovem recitava:

Tenho uma chaga d’alma em cada poro,
Derramo o pranto, quando o riso imploro
E peço a vida desejando a morte.

Assim, glorificando uma rosa de carne petalada em gelo, dava-lhe um suspiroso adeus!

... até um dia, adeus!

Esse dia, que nunca chegará, chegou, e embora só eu a veja,

Ela passa por mim resplandecente
Como o riso de amor da inspiração,

mas, das minhas ilusões antigas, apenas, restam, por esferas dolorosas,

Uma série de rimas lacrimosas,
Um punhado de lágrimas rimadas!

Saudade! Saudade! Porque, sendo tão doce, és tão amarga!
Os intransigentes espíritos justos não repudiam o seu passado. Assim, o humílimo estreante aplaudido pela vossa bondade em 1899, pode, em 1917, escrever, no Bosque Sagrado, a


BALADA DE ALZIRA


Por minha fé, por meu ideal,
Em selva bruta e em saxeo monte,
Eu pelejara firme e leal.
Do lar senti saudade insonte,[24]
E, sem que os próprios feitos conte,
Voltei da guerra do sertão,
Trazendo sob a ereta fronte,
Ferido o forte coração.

Perto do berço do meu natal,
Da mesma terra no horizonte,
Eu vi surgir teu vulto real,
E derrubei a estreita ponte
Do antigo afeto, pois defronte
Da tua nobre perfeição,
Pulsou, do amor bebendo à fonte,
Ferido o forte coração.

Num cemitério de arraial,
Antes que o doce luar desponte,
- Quebrando o assalto de um rival,
Provei que ousado brutamonte
Que a minha altiva dama afronte,
Derrama o sangue de vilão,
Embora eu mostre, a quem m’o aponte,
Ferido o forte coração.

Oferenda:

Formosa, ainda hoje, em meu remonte,
Pensando em ti, sem ilusão,
Sinto, debaixo do perponte,[25]
Ferido o forte coração!

Eu a sagrei Condessa... “Se um povo, sagrando-a rainha, lhe desse um trono, premiara a excelsa beleza virtuosa, pois nunca, em face tão bela, resplandeceu virtude mais pura...”

Apresento a seguir, alguns memoráveis poemas do livro Bosque Sagrado:


A RENUNCIA

... a sombra do Esclarecido era uma irradiação que
se confundia com o luar e fulgia na sombra...


Rolando em fluida névoa, a fosforear, flutua
No monótono Céu, na planície uniforme,
Ao langue[26] odor da flora a láctea luz da Lua,
E entre os jardins, na paz da noite, o paço[27] dorme.

Ora incerto e apressado, ora seguro e lento
O andar, braços ao peito, olhos em fogo, e abstrato,
Só, na escura nudez do seu largo aposento,
Sonha e pensa, indo e vindo, o príncipe Sidatho.[28]

De sacrossanto rei é o sacro herdeiro; a sorte
A voz de seu capricho é diligente ancila;[29]
Ama, sabe-se amado; é moço, é belo, é forte,
E luzindo na treva o seu traje cintila.

Mas, de pronto estacando, em tom que silva, agudo,
“A doença alquebra a força e à juventude” brada,
“O tempo abate; a morte a todos vence, e a tudo;
A vida é transitória e nada somos, nada!”

Ilhas de farto luxo e opulento conforto
Onde amável aroma ondeia em fumea espira,
Orlados de frescor de amplos jardins, absorto,
Os esplendores reais dos seus palácios mira.

Segue para um salão de altos muros erguidos
De iriada[30] pedraria em rebrilhos acesa,
E entre ricos metais e custosos tecidos,
Com tranquilo desdém renuncia a riqueza .
Na augusta sala régia o seu passo ressoa.
Dos prestígios de casta ali desvenda o ariano,
E, ante o Cetro glorioso e a sublime Coroa,
Renuncia o direito ao poder soberano.

Da alcova conjugal transpondo a entrada, fita
– Esparsa a coma, arfante o seio, a fronte pura –
Yashodara [31] a dormir voluptuosa e bonita,
E do amor renuncia a perfeita ventura.

Recua e foge... A paz da noite encanta e assombra...
Do paço, que abandona, à porta as vestes muda...
Vai... Redonda, à feição de uma aureola, na sombra
Dos caminhos, ao luar, treme a sombra de Buda.



ESCRAVA

Bela grega em país de bárbaros, por dolo[32]
Dos Deuses reduzida à condição de serva
De zeloso senhor que a retinha e conserva,
Conheci, resignada às leis de estranho solo.

Seu olhar, ao pausado ondeio do seu colo,
Reflete a placidez interior de Minerva,
E é puro como o orvalho estrelando a verde erva
Ao rolante clarão da quadriga [33] de Apolo.

Amo-a. Ao rebelde Amor impondo a disciplina
Da arte, em pedra copio esse rosto, exaltado
Ante a forma que indica uma estirpe divina.

E à sombra, ao borbulhar das águas, festonado[34]
De hera,[35] mirto[36] e loureiro, o seu busto domina
O recanto pagão deste Bosque Sagrado.



A UM BUSTO DA REPUBLICA

(A BORDO DO CONTRATORPEDEIRO “RIO GRANDE DO NORTE”
DURANTE UMA PRISÃO POLITICA)

No teu olhar sem luz há sugestões de nave,
Tua fronte do sonho a aureola ideal conserva,
E o teu calmo perfil tranquilamente grave,
Tem a serenidade austera de Minerva.[37]

Frígio,[38] no teu cabelo, o gorro dos libertos
Ostentando, ao clamor das turbas que abençoas,
– Sob amplo azul dos céus em novos céus abertos,
Ofuscas o esplendor augusto das coroas.

A virtude escrevendo em gloriosas divisas,
De Temis[39] a balança o gládio[40] atas de Marte,[41]
E o terrível poder do povo simbolizas
Na cabeça de leão que tens no talabarte.[42]

O mal castigas sempre, e os bons jamais abates,
E para destronar injustiças e vícios,
Exiges, ao rumor e ao fogo dos combates,
Como as deusas de outrora, humanos sacrifícios.

Quando rompendo as leis, doida, a força desvaira,
E sob os teus pendões a guerra o sangue espalha,
– Com afagos de sol, o teu encanto paira
Sobre os que vão morrer nos campos e batalha...



NA PRISÃO

(NO QUARTEL DA HARMONIA, DURANTE UMA PRISÃO
POR MOTIVOS POLITICOS) [43]

É estreita e escura esta prisão,
Mas é amplo o espaço estreito,
Quando respira o peito,
E a voar na tua própria vastidão,
As asas brandes, alma,
E em nossa fronte, a calma
Deixa pousar teu lábio irreal, – meditação.

Por ter insciente[44] malfeitor
Os erros condenado,
Vejo-me encarcerado,
Mas não me turva o espírito o rancor;
Tendo a consciência justa,
Nada me assusta
E o meu pensar emana em veio azul de amor.

Num calabouço de quartel,
Meu ser estudo, e vivo,
Com um santo cativo,
Das ferozes paixões surdo ao tropel;
Neste lar da arrogância,
Evoco a tolerância,
E, vendo as coisas do alto, eu as vejo sem fel.

Passa, em monótono ir e vir,
O guarda, à minha porta,
E o sonho me transporta
Às regiões onde o mal não tem vizir;
Mudo o cárcere em templo,
E, extasiado de almos[45] céus as manhãs do porvir.

Leal de Souza encerra o livro com o poema Cavaleiro Andante:



CAVALEIRO ANDANTE

De cavaleiro andante a espada fina,
Manejo com bravura sem ardor;
É-me preciso, em calma, na oficina,
A lira reencordoar de trovador.

Paro num cimo verde de colina,
De árvores que plantei respiro o odor,
E uma vasta tristeza me domina,
Envolve-me um silencio esmagador.

O peito em sangue, os olhos não enxutos,
Fatigado, vencido o coração,
Atinjo o termo de ilusões e lutos.

E ao fim da minha longa iniciação,
Reconheço a amargura dos teus frutos,
Bosque Sagrado da meditação!

A obra A mulher na poesia brasileira é um conjunto de três conferências:

v O ideal feminino das poetas, realizada no salão nobre do Jornal do Commercio do Rio de Janeiro, em 4 de outubro de 1913.
v Poetisas brasileiras, realizada no salão nobre do Jornal do Commercio do Rio de Janeiro, em 20 de agosto de 1914.
v Musa contemporânea, realizada sob os auspícios da Sociedade Brasileira de Homens de Letras, no salão nobre do Jornal do Commercio do Rio de Janeiro, em 4 de setembro de 1915.
A primeira edição foi publicada em 1918 pela Livraria Editora Leite Ribeiro e Maurillo, situada na Rua Santo Antonio, 3, na cidade do Rio de Janeiro.
Quando escreveu este livro, o Espiritismo já fazia parte da vida de Leal de Souza. Na conferência Poetisas brasileira, fez uma importante citação à poetisa Auta de Souza. Antes, de transcrevermos as suas palavras sobre ela, vejamos um pouco da sua biografia.
Filha de Eloy Castriciano de Souza e Henriqueta Leopoldina de Souza, nasceu em Macaíba (RN), em 12 de setembro de 1876. Antes dos 12 anos, ingressou no Colégio São Vicente de Paulo, no bairro da Estância, onde recebeu primorosa educação por parte das religiosas francesas. Aprendeu Literatura, Inglês, Música, Desenho e Francês. Aos 14 anos, ainda no Colégio São Vicente de Paulo, em 1890, manifestaram-se os primeiros sintomas da tuberculose, obrigando-a a abandonar os estudos.
Em 1900 publicou seu único livro de poemas sob o título de Horto, prefaciado por Olavo Bilac, que obteve significativa repercussão da crítica nacional. Antes de serem reunidos em O Horto, alguns de seus poemas foram publicados em jornais como A Gazetinha, de Recife, O Paiz, do Rio de Janeiro, e A República, A Tribuna, o Oito de Setembro, de Natal, e nas revistas Oásis e Revista do Rio Grande do Norte. Faleceu em 7 de fevereiro de 1901 em Natal. Foi através de Chico Xavier, que ela, pela primeira vez revelou sua identidade, transmitindo suas poesias enfeixadas em 1932, na primeira edição da obra Parnaso de Além Túmulo, lançado pela Federação Espírita Brasileira.
Leal de Souza escreveu:

“Educado na doçura monacal,[46] sob o estro[47] de ideais contrários aos modernos, o estro seráfico[48] de AUTA DE SOUZA desconhecia os eficazes requintes da técnica, mas traduziu com espontânea singeleza comovedora a esplendorosa santidade de uma cândida alma açucenalmente embebida nas volúpias cristãs da beatitude.
O sangue não tinge de dor as lágrimas vertidas no seu Horto. No isolamento desse jardim em que o sol amortece ungido pelo incenso evolado[49] das fulcras rosas místicas e o cetineo luar, atenuando as trevas, esboça fugidias ermidas sidereas, um som imaterial de harpas ilusórias, acariciando os sentidos, envolve-os em uma flutuante tristeza sem amargura.
O piedoso carinho da poetisa decanta a graça irrequieta das crianças e deplora a morte das aves, ajoelha a sua constante saudade no bendito solo fechado sobre o sono funéreo de seus pais; aviva, na lembrança dos que ficaram, a memória dos queridos entes que se foram; e pousando o olhar magoado e enfermo na saúde risonha e na alegria vivaz das amigas felizes, entoa versos...
Santamente, AUTA sob morrer como vivera e, ao pé do túmulo,[50] cerrando os olhos para a luz do mundo, abriu sobre ele, à feição de um palio, as asas de sua benção”:

Eis o descanso eterno, o doce abrigo
Das almas tristes, e despedaçadas
Eis o repouso enfim; e o sono amigo
Já vem cerrar-me as pálpebras cansadas.

Amarguras da terra! eu me desligo
Para sempre de vós... Almas amadas
Que soluçais por mim, eu vos bendigo,
Ó almas de minh’alma abençoadas.

Ao longo do livro Antônio Eliezer Leal de Souza: o primeiro escritor da Umbanda, citei diversos escritores que escrevem sobre poeta e que relato a seguir:

• Jorge Rizzini
• Fernando Góes
• Klaus Becker
• Fernando Jorge
• Luis da Câmara Cascudo
• Chico Xavier
• Emilio de Menezes
• Humberto de Campos
• Oscar Quevedo
• Mário Matos
• Alcides Maya
• Brito Broca
• Roger Bastide
• João de Freitas
• Raimundo Menezes
• Marlene Medaglia Almeida
• Carlos Drummond de Andrade
• D. L. de Macedo
• W. W. da Matta e Silva
• Horácio Cartier
• Fernando Py
• Gustavo Barroso
• Antonio Dimas
• Maria de Lourdes Eleutério
• Carvalho Netto
• Afrânio Coutinho
• João Fontoura
• João Pinto da Silva
• Anísio Rocha

Outros escritores podem também ser citados, como Gonzaga Duque em um artigo no Diário do Comércio, em 1909, ao se referir aos poetas emergentes do Rio de Janeiro:

Leal de Souza, original e intransigente, trazendo sob o manto régio de prosador da lira doiro do Verso Puro...

Manuel Bandeira, na obra Itinerário de Pasárgada, ao comentar sobre a publicação do seu primeiro livro,[51] escreve:

Não fiz grande distribuição do folheto, senão entre parentes e amigos. E um dos motivos foi que, tendo mandado um exemplar a Bilac, não recebi nenhuma resposta. Como na ocasião tivesse conhecido em Petrópolis a Flexa Ribeiro e Leal de Souza, ofereci-lhes o volume. Foram eles muito amáveis comigo. O primeiro dedicou-me todo um rodapé na Notícia, onde colaborava semanalmente; e o segundo meia página da Careta.

Agrippino Grieco, no livro Viagem em Torno a Machado de Assis, ao comentar os pseudônimos utilizados por diversos autores, escreve: Da máscara de Voltaire utilizava-se na Careta o gaúcho Leal de Souza.
Lima Barreto, no livro Um longo sonho do futuro, em uma carta dirigida a Antonio Noronha dos Santos (15/05/1909), escreve:

O Paulo encontrou-me na rua e falou-me cheio de blandícias.[52] Que f.. da p.! Logo ao chegar, foi ao J. Barreto,[53] a modos de quem se desculpa. Sabes bem que não o tratei nem melhor nem pior. Aqui já se resmunga. O Elói,[54] essa sardinha literária, veio me falar, e por aí penso que a Garnier já tem noticias. O Paulo[55] veio sabendo do assunto mais [em] evidência no livro, e que não é o principal – o jornal, e isso apavorou-o um tanto, segundo me disse João. O Leal,[56] troçado aí por um jornaleco, engalfinhou-se com o diretor do mesmo, um tal Vasconcelos. Está de um ridículo sem nome, passeando com um enorme bengalão e atitudes de mata-mouros.[57]

O processo revolucionário brasileiro de 1930 teve alguns antecedentes. Julio Prestes foi eleito deputado estadual em 1909, federal em 1924 e presidente[58] do Estado de São Paulo em 1927.
Nesta época, estava em vigor no país a chamada política do café-com-leite, onde paulistas e mineiros se alternavam na Presidência da República. No governo de Washington Luis (1926-1930), porém, a alternância entre os Estados foi quebrada pelo presidente que, ao invés de indicar um mineiro, apoiou Julio Prestes de Albuquerque.
O PRM [59] aliou-se ao PRR [60] para fazer oposição ao governo de Washington Luis, criando a Aliança Liberal, que tinha como candidato Getúlio Vargas. O candidato do governo era Julio Prestes pelo PRP, [61] que foi eleito supostamente por fraude, já que a maior parte dos votos era da Aliança Liberal.
O assassinato de João Pessoa, que era vice de Getúlio Vargas, deflagrou o movimento denominado Revolução de 30, que por meio de um golpe militar gestado na Capital federal, depôs Washington Luís. Instalou-se no poder uma junta militar que, no dia 3 de novembro de 1930, entregou o poder a Getúlio Vargas, líder das forças revolucionárias. Nessa época Leal de Souza era secretário do jornal A Noite, de propriedade de Geraldo Rocha.
No livro Viriato Corrêa, G. Hercules Pinto relata a posição do biografado como parlamentar e jornalista frente ao processo revolucionário:

Washington Luiz representava a lei, o poder constituído e estava no dever de defendê-los. E procurou manter esse poder e defender a Constituição bravamente até o fim. Mas, sua resistência não durou três semanas. Parecia que em todo Brasil a revolução era o pensamento dominante.
O presidente reuniu o que dispunha para manter intactas as instituições. Mas, tudo já estava minado pela idéia de que qualquer coisa de novo deveria ser feito.
Acuado, o “braço forte” apelou para Viriato, que era deputado federal governista. Amigo do Presidente foi chamado a Palácio. E teve a incumbência de falar pelo Rádio no sentido de alertar o povo contra aquilo que, para o governo, era loucura, esclarecer, mostrar a todos que Washington estava senhor da situação e, portanto, era maluquice aquele movimento.
E todas as noites, Viriato, pela Rádio Sociedade, a única existente no Rio, graças à operosidade brilhante de Roquette Pinto,[62] profligava[63] o movimento rebelde, apoiado em centenas de telegramas que o Presidente lhe fornecera, vindos do pais inteiro, onde se dizia que a calma reinava em toda parte.

Porém a revolução ganhava corpo dia após dia. Quando a revolução eclodiu no Sul do país, Geraldo Rocha era assediado por muita gente que queria sua adesão ao movimento, considerado justo por uma considerável parte da população. No entanto, o proprietário do jornal A Noite, mantinha-se “no muro”, procurando uma neutralidade. Parecia esperar, de forma ardilosa, que as coisas acontecessem para aderir aos que tivessem mais chances de se tornarem vitoriosos. G. Hercules Pinto continua sua explanação:

Trabalhávamos no Suplemento Ilustrado de A Noite, revista fundada por Viriato e Armando Gonzaga e muitas coisas estranhas assistimos.
Um dos que vinham sempre saber o que Geraldo tencionava fazer com referência ao movimento que empolgava o Brasil era Belmiro Valverde, médico ilustre.

Belmiro insistia para Geraldo tomar uma posição e este parecia repetir as palavras do manifesto que o presidente Washington Luiz divulgou em 10 de outubro, onde dizia, logo de inicio:

“Tal movimento não se justifica. Não o inspiram ideais ou princípios. Que querem os seus promotores? Não o dizem, não o anunciam. Emudecem sob o peso do crime cometido. Quem são eles? Escondem-se no anonimato. Só se sabe que querem derramar o sangue brasileiro”...

A indecisão de Geraldo rocha intrigava a todos. Por que não se resolver logo a favor de Washington Luiz ou dos revolucionários? Eventualmente atacava um ato do presidente, porém sem entusiasmo, só para despistar. G. Hercules Pinto continua:

E todas as noites, Viriato estava na Rádio Sociedade com sua inteira boa-fé e sua lealdade corajosa. Viriato, munido dos telegramas que Washington lhe fornecia diariamente e, fiado nas informações que lhe dava o Ministro da Guerra, falava, falava. Quem diria a verdade? Viriato? Os revolucionários?
As coisas seguiam tumultuariamente quando, uma tarde, fui procurado pelo secretário do jornal, que nos disse se achar profundamente aborrecido.
- “O que é que há”? Perguntamos.
Essa era a frase que mais se ouvia. Era o grito que Oswaldo Aranha dera pelo rádio, como sinal da revolução que se iniciava.
E Eliezer Leal de Souza explicou que Geraldo não estava gostando do uso que Viriato fazia do nome de “A Noite” em suas pregações pelo rádio. Queria que ele o avisasse disso. Mas, não se via com coragem para tal missão por ser amigo do deputado e porque achava o aviso meio estranho. Afinal, ele era realmente redator do jornal e Geraldo proclamava-se amigo do Presidente. Por que não o dizer?
Espantamo-nos com essa atitude correta de Leal, porque sabíamos que fazia tudo que o chefe queria. Mas, continuamos calados à espera do desfecho da história. Terminou pedindo para que fossemos o portador do recado que ele recusava transmitir. Não aceitamos a incumbência por julgar aquilo uma covardia e porque, estando do lado de lá, como se dizia, esse aviso levado por nós, poderia parecer a Viriato uma impertinência ou uma intrujice de nossa parte. E o deputado continuou a atacar violentamente os chefes revolucionários.
E a revolução já era uma avalanche.
Dias depois novo aviso, agora mais peremptório.[64] Geraldo, que ninguém via, proibia seu velho amigo de usar o nome de “A Noite”. Novo convite de Leal para que fossemos o portador da ordem e nova recusa nossa.

Em pouco tempo o Presidente Washington Luiz foi deposto e preso. A Noite, que até o fim, não soube se devia atacar ou defender o Presidente, não descobrindo, portanto, o rumo certo a tomar devido à indecisão de Geraldo Rocha, foi queimada e depredada. Os jornais O Paiz, A Noticia e o Jornal do Brasil foram incendiados. A Noite fechou suas portas, porém o Exército e da Marinha, empenhados em consolidar a vitória da revolução, procuravam continuar na execução plena do esquema militar organizado. A propriedade particular ficou, a mercê de uma turba sedenta de saque e destruição. A massa ignara ensandecida incendiou e destruiu as oficinas do jornal. Aos depredadores associaram-se os salteadores profissionais que roubaram uma grande parte do material da redação e impressão. Continua a explanação de G. Hercules Pinto:

Como não era possível funcionar em meio dos escombros – onde, por um triz, íamos perdendo a vida presos no elevador privativo da redação – jornal foi instalado provisoriamente e às escondidas num sobrado do centro da cidade.
Esse diário que até 23 de outubro tinha como redator-chefe Eliezer Leal de Souza e gerente Ismael Maia, a 4 de novembro apresentava como diretor o poeta Augusto de Lima, membro da Academia Brasileira de Letras.
Na primeira página desse primeiro número post-revolução, o poeta se apresentou ao público dizendo de suas intenções, afirmando que as colunas do jornal estavam abertas a todos etc. Isso, no canto, ao alto. No restante da página, com o titulo “As atitudes da A NOITE” – Leal de Souza explicou, entre outras coisas, “O procedimento dos seus redatores em face do estado de sítio e da revolução” e a conduta política do dr. Geraldo Rocha.
Procurou explicar tudo, mas a coisa saiu muito canhestramente, como se o jornalista tivesse medo de ser apanhado em flagrante ao longo daquela história mal contada.
Quanto à Viriato, Leal, como que fazendo uma censura, como insinuando que A NOITE não estaria naquela situação desastrosa se não fosse a atitude do deputado, escreveu:

“O caso do Sr. Viriato Corrêa:

A NOITE sempre respeitou a opinião dos seus redatores, mas considerando que o Sr. Viriato Corrêa, deputado pelo Maranhão, assumia, nos seus discursos pelo Rádio, uma atitude que constratava violentamente com a orientação da folha, foi forçada a dispensar a sua colaboração, substituindo-o na seção MICROLANDIA pelo Sr. Armando Gonzaga.
Observando, porém, que o povo não notava a substituição, e não querendo magoar o Sr. Viriato Corrêa com uma declaração que as circunstâncias atuais justificam, suprimiu aquela seção.
Outro dos nossos redatores falou no Rádio em favor do governo, mas, antes de fazê-lo, deixou espontaneamente o posto que ocupava em nossa redação.”

Mais adiante, Geraldo Rocha convidou Viriato Corrêa para dirigir a revista Mundo Ilustrado, porém este recusou e nunca mais se viram. Em setembro de 1931, Leal de Souza deixou A Noite e transferiu-se para o jornal Diário de Notícias.
Paul Frischner na obra Presidente Vargas, descreve alguns momentos que antecederam o processo revolucionário e cita nas páginas 245 e 246:

Um pequeno grupo de homens acompanhara Getulio até a tribuna: eram os propagandistas de suas idéias. No dia 2 de janeiro de 1930, os cem mil homens e mulheres que aclamaram Getulio Vargas, transformaram-se em tantos outros propagandistas do programa da “Aliança Liberal”, em propugnadores de um Brasil grande e unido, que não fosse mais, conforme a expressão do historiador Leal de Souza, “a democracia do estado de sítio, a democracia das leis sem execução, dos códigos interpretados pela chicana, da formalística mentirosa, disfarçando o abuso sob aparências legais”.

Apresentamos algumas considerações de Walter Spalding na sua obra A Invasão Paraguaia do Brasil. Na parte final, onde cita diversos documentos importantes, sendo um deles um despacho do Ministro da Guerra dirigido a Ângelo Moniz da Silva Ferras, Barão de Porto Alegre:

Porto Alegre – Gabinete do Ministro da Guerra em 26 de julho de 1865.
Ilm. E Exm. Sr – Nas circunstâncias atuais, quando guardas nacionais solteiros e casados, empregados de diferentes categorias, indivíduos por diversos títulos isentos do serviço militar, correm pressurosos[65] de todos os ângulos do Império para vindicar, com as armas na mão, a dignidade nacional ...
Conheço a briosa população da Província do Rio Grande do Sul; sei, por experiência, que em dedicação e patriotismo a ninguém cede a dianteira. Quando não bastassem gloriosas condições para vigorar este juízo, ai estava mais uma brilhante prova no comportamento da população da campanha, que em massa abandona domicilio, família, cômodos e fortunas para acudir ao grito da Pátria (10). [66]

(10) Grande foi o número de voluntários que se apresentaram, e entre eles pessoas notáveis e de destaque na sociedade. Entre estes figura, e vale a pena evoca-lo aqui, - para o que damos a palavra ao insigne poeta e jornalista Leal de Souza, - o valente “cabo Vargas”, - hoje General Manuel Nascimento Vargas, pai do Excelentíssimo Presidente da República - :
“Era um mocito baixo, de peito largo, olhos calmos em rosto moreno. Chamava-se Manuel do Nascimento Vargas e nascera em Passo Fundo. Era criador, e ia alistar-se como voluntário, em frente ao inimigo, que inundava, com seus batalhões, as margens argentinas do Rio Uruguai, ameaçando São Borja, onde, nesse dia, 1o de fevereiro de 1865, apressava-se a organização do 28o Corpo de Cavalaria da Guarda Nacional. O moço de Cima da Serra foi incluído, com o n. 45, da Primeira Companhia, e à tarde recebia as divisas de cabo...

Depois de algum tempo trabalhando no jornal Diário de Notícias, Leal transferiu-se para o periódico A Nota, de propriedade de Geraldo Rocha. As suas ligações com o Presidente ficam patentes em Getúlio Vargas: Diário. No dia 9 de dezembro de 1938, Vargas escreveu:

Despacho com a Viação, regresso ao Guanabara, despacho do expediente.
Jantaram conosco o interventor de São Paulo e esposa. Após a retirada deste, recebi o jornalista Leal de Souza, que me procurava com muita ansiedade. Narrou-me seu rompimento com Geraldo Rocha e as causas deste rompimento, pela orientação dada por Geraldo ao A Nota, no sentido de uma ditadura militar.Que desde agosto Geraldo vinha trabalhando o ministro da Guerra nesse sentido, estando também comprometidos o coronel Costa Neto, comandante da 1a Região.
Depois de ouvi-lo chamei o chefe de Polícia. Este me chamou a atenção para os artigos de A Nota desse dia, de exaltação das forças armadas e do General Dutra, a propósito do segundo aniversário de sua administração como ministro da Guerra, que o censor tentara modificar alguns tópicos e não conseguira, porque Geraldo levava as provas ao general Benício e ao ministro da Guerra, e a censura tivera de ceder. Disse-me ainda que um dos maiores responsáveis por esse estado de coisas era o general Benício, recentemente nomeado para secretário-geral do Ministério da Guerra.



E a história continua...



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E SITIOGRÁFICAS


AUTA DE SOUZA. Disponível em:
Acesso em 11/07/2009.
AUTA DE SOUZA. Disponível em: Acesso em 11/07/2009.
BANDEIRA, Manuel. Itinerário para Pasárgada. 5 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.
BARRETO, Lima. Um longo sonho do futuro: diários, cartas, entrevistas e confissões dispersas. Rio de Janeiro: Graphia, 1993.
DUQUE, Gonzaga. Até que um dia! In: HOUAISS, Antonio e NEGREIROS, Carmem Lucia. O triste fim de Policarpo Quaresma: edição crítica. Universidad da Costa Rica, 1997.
FRISCHAUER, Paul. Presidente Vargas. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1943.
GRIECO, Agrippino. Viagem em Torno a Machado de Assis. São Paulo: Martins, 1969.
PEIXOTO, Celina Vargas do Amaral (apresentação). Getúlio Vargas: Diário, volume II (1937-1942). São Paulo: Siciliano/FGV, 1995.
PINTO, G. Hércules. Viriato Corrêa: A modo de biografia. Rio de Janeiro: Alba, 1966.
SOUZA, Leal. A Romaria da Saudade. Rio de Janeiro: Jornal do Commércio, 1919.
________. A mulher na poesia brasileira. Rio de Janeiro: Leite Ribeiro & Maurillo, 1918.
________. Bosque Sagrado. Rio de Janeiro: Leite Ribeiro & Maurillo, 1917.
SPALDING, Walter. A Invasão Paraguaia no Brasil. Coleção Brasiliana. Vol. 185. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1940.
TRINDADE, Diamantino Fernandes. Antônio Eliezer Leal de Souza: o primeiro escritor da Umbanda. Limeira: Editora do Conhecimento, 2009.
[1] Movimento liderado por Antonio Conselheiro no final do século passado (1893-1897) nos sertões baianos. A fama do movimento se deve a muitas razões, entre elas o fato de haver mobilizado grande contingente militar para sua repressão, transformando um conflito local e regional na maior guerra civil ocorrida no Brasil naquele final de século. A história de Canudos começou em 1893, quando foi fundado o Arraial de Canudos numa antiga fazenda de gado às margens do Rio Vaza-Barris, nos sertões da Bahia. Sob a liderança do beato Antonio Conselheiro, a população do Arraial chegou a atingir 8.000 sertanejos, integrados sob a forma de congregação religiosa.
[2] Em 1893 foi deflagrada uma guerra civil no Rio Grande do Sul. Os federalistas - adeptos do sistema parlamentarista - levantam-se contra Júlio de Castilhos, governador autoritário e centralizador, apoiado pelo Marechal Floriano. Como decorrência da guerra civil, foi fechada a então “Escola Militar de Porto Alegre”, ressurgindo, pouco depois, sob a forma de uma Escola Preparatória e Tática. Mas já em 1898, esse estabelecimento seria transferido para Rio Pardo. Talvez como conseqüência de atos de indisciplina em que se envolveram os alunos: a 06/06/1898, no desenvolvimento de um conflito com os “ratos brancos” da Polícia Municipal, os alunos atacaram o Posto Policial da Azenha (nota do autor).
[3] Praticar, cometer (qualquer ação condenável).

[4] Antônio Augusto Borges de Medeiros (Caçapava do Sul, 19 de novembro de 1863 — Porto Alegre, 25 de abril de 1961) foi um advogado e político brasileiro, tendo sido presidente do Estado do Rio Grande do Sul por 25 anos, durante o período conhecido como República Velha. Borges de Medeiros foi representante da primeira geração republicana.
[5] Florescentes (nota do autor).
[6] Ruiva, alourada (nota do autor).
[7] Ramagem de árvores, ramo (nota do autor).
[8] Louvores exagerados (nota do autor).
[9]Neurose com enfraquecimento da força nervosa, perturbações mentais do tipo tristeza e apatia (nota do autor).

[10] Excessivamente longa, palavrosa (nota do autor).
[11] Esticadas (nota do autor).
[12] Cintilante (nota do autor).
[13] Elegância (nota do autor).
[14] Imaculado (nota do autor).


[15] Gracioso (nota do autor).
[16] Requebro (nota do autor).
[17] Vinho bom (nota do autor).
[18] Penetrante (nota do autor).
[19] Pequena câmara interior para dormir (nota do autor).
[20] Fosforescência que em certas latitudes e principalmente em tempo de trovoada se nota no alto dos mastros dos navios (nota do autor).
[21]Prateado (nota do autor).
[22] Calor; ardor; efervescência, entusiasmo; fervor; ímpeto (nota do autor).
[23] Poesia (nota do autor).

[24] Inocente (nota do autor).

[25] Espécie de casaco curto que se veste sem colete (nota do autor).
[26] Sensual (nota do autor).
[27] Palácio (nota do autor).
[28] Sidarta Gautama (nota do autor).
[29] Serva (nota do autor).
[30] Colorida (nota do autor).
[31] Esposa de Sidarta (nota do autor).
[32] Fraude (nota do autor).
[33] Carro puxado por quatro cavalos (nota do autor).
[34] Ornado por grinaldas (nota do autor).
[35] Planta trepadeira (nota do autor).
[36] Planta arbustiva com muitos ramos, de folha persistente (nota do autor).
[37] Equivalente romana da deusa grega Atena, deusa da sabedoria, Minerva era filha de Júpiter (nota do autor).
[38] Barrete vermelho, adotado durante a Revolução Francesa como símbolo da Liberdade, e semelhante ao que usavam os Frígios. A Frígia foi um reino da antiguidade situado na parte central oeste da Anatólia (atual Turquia) (nota do autor).
[39] Deusa grega guardiã dos juramentos dos homens e da lei (nota do autor).
[40] Espada curta, de dois gumes, utilizada pelas legiões romanas (nota do autor).
[41] Deus romano da guerra (nota do autor).
[42] Cinturão de couro (nota do autor).
[43] Leal de Souza foi preso diversas vezes, quando servia o Exército, por combater o governo do Presidente do Estado do Rio Grande do Sul, Borges de Medeiros (nota do autor).
[44] Ignorante (nota do autor).
[45] Benéficos (nota do autor).

[46] Relativo a monge ou a monja (nota do autor).
[47] Inspiração poética (nota do autor).
[48] Místico (nota do autor).
[49] Exalado (nota do autor).
[50] Em 1951, foi feita uma lápide, tendo como epitáfio versos extraídos de seu poema Ao Pé do Túmulo (nota do autor).

[51] A Cinza das Horas.
[52] Carícias (nota do autor).
[53] João Pereira Barreto (nota do autor).
[54] Eloi Pontes (nota do autor).
[55] João do Rio (nota do autor).
[56] Leal de Souza (nota do autor).
[57] Valentão (nota do autor).
[58] Cargo equivalente ao atual de governador (nota do autor).
[59] Partido Republicano de Minas Gerais.
[60] Partido Republicano Riograndense.
[61] Partido Republicano Paulista.
[62] Em 1923, Roquete Pinto e Henrique Morize fundam a primeira emissora brasileira: Rádio Sociedade do Rio de Janeiro (nota do autor).
[63] Procurava diminuir (nota do autor).

[64] Decisivo (nota do autor).

[65] Apressados, impacientes (nota do autor).
[66] Nesta nota de rodapé, Walter Spalding cita na íntegra o capítulo O Campeador do livro Getulio Vargas, de Leal de Souza.

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